O assunto relacionado à sobrevivência em ambientes naturais hostis tem se tornado cada vez mais recorrente na atualidade. Pode-se observar isso através do quantitativo de programas de TV que tratam do assunto por meio de abordagens peculiares. A exemplo disso, temos o “Largados e Pelados”, “Sozinhos" ou "Desafio em Dose Dupla”, entre outros. Além de tais abordagens, as diversas mídias vêm apresentando relatos frequentes de pessoas ou grupos que se depararam com uma situação de sobrevivência. 

Muitas dessas situações podem ocorrer em um simples passeio de poucas horas numa tarde em uma mata, ou até mesmo ocorrer com praticantes de bushcraft, que adentram áreas naturais com algum potencial de risco, como já experimentado pelo próprio autor deste artigo em inúmeras ocasiões.

Há casos bem conhecidos de sobreviventes de acidentes aéreos ou de naufrágios na costa do país, ou ainda, de pessoas que se perdem em serras e montanhas durante caminhadas e passeios diários. A realidade, entretanto, é que a maioria das pessoas que saem de casa buscando aventuras na mata ou um tempo de qualidade junto a natureza, acaba se expondo a riscos enormes e desnecessários, por não terem qualquer noção de procedimentos simples, que poderiam evitar ou diminuir consideravelmente a incidência de acidentes em ambientes naturais hostis.

O fato de buscarmos uma reconexão mais profunda com a natureza, no caso dos praticantes de bushcraft, não nos dá o direito de sermos negligentes para com a nossa segurança e dos demais. Tal reconexão implica, necessariamente, em estarmos cientes dos riscos presentes, preparados em alguma medida para lidar com eles.

Saber aonde pretende ir, conhecer a região minimamente, levar em conta a época do ano e as condições atmosféricas, levar consigo e saber usar um kit de sobrevivência básico, além de deixar avisado em casa ou no trabalho para onde se pretende ir, com quem, durante quanto tempo e a data de retorno, são medidas que podem determinar a vida ou a morte de uma pessoa, caso ela se encontre em uma situação na qual tenha que sobreviver por algum tempo em um ambiente natural hostil.

Conhecer o que precisa ser feito, no caso de um cenário de sobrevivência, não é algo que apenas instrutores da área ou mateiros muito experientes conseguem realizar. Entender a situação e tomar as ações cabíveis para afastar o risco imediato de morte é algo que está ao alcance da maioria das pessoas, desde que elas tenham o conhecimento mínimo para isso. Na verdade, a maioria dos casos envolvendo sobreviventes tende a durar, estatisticamente, em torno de 72 horas. Obviamente, há casos que podem extrapolar esse período para muito além desse cenário estatístico, mas a maior parte se dá dentro dele.

Nesse contexto, o sucesso do sobrevivente é determinado pelo que chamamos de “Triângulo da Sobrevivência”. Tal termo possui como significado conseguir ou produzir abrigo, água potável e fogo. Ou seja, uma vez estabelecido esses três aspectos, o indivíduo ou grupo poderá poupar tempo para descansar o corpo e a mente, afastando o risco imediato de morte e, então, conseguir criar uma estratégia de sobrevivência. Um kit de sobrevivência básico e sabiamente preparado (contendo abrigo, água e fogo) permitirá que o sobrevivente assegure a manutenção de sua vida ou de seu grupo, até que se efetue o resgate por terceiros ou o auto resgate.

Aprender a usar kits de sobrevivência e outras ferramentas nas matas, possibilitará ao sobrevivente priorizar ações e abordagens que permitem não apenas seu sucesso em eventuais situações já mencionadas, mas também no aperfeiçoamento de um olhar maduro, realista e eficiente para cenários que possam apresentar riscos (óbvios ou não) para a segurança das pessoas.

Entretanto, há ainda um aspecto que devemos considerar e que pode ser ilustrado pela seguinte sentença: “Ninguém aprende a nadar com o barco afundando”. Esta máxima se aplica bem em alguns casos, nos quais o indivíduo investe dinheiro para adquirir equipamentos diversos, mas não dedica o tempo mínimo necessário em treinamentos que o capacitarão para manusear tais objetos e recursos em uma situação real. Esse é um erro comum cometido pelas pessoas, que tendem a deixar esse aspecto sempre para depois.

Sendo assim, quanto antes a pessoa investir em tal capacitação, mais rápidas serão suas respostas e ações proativas em possíveis situações de risco ou de sobrevivência.


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Giuliano Toniolo

Escritor, professor e instrutor de sobrevivência e bushcraft, produz conteúdos para diversas plataformas, sendo um dos principais responsáveis pela divulgação do bushcraft no Brasil, desde 2008, através de seu canal no YouTube e escola mateira Mestre do Mato.